terça-feira, janeiro 24, 2017

O discurso de Trump


A tomada de posse de Donald Trump, mergulhada na polémica do início ao fim, e portanto fiel ao empossado, continua a fazer correr tinta, como seria de esperar. O número de populares, a forma como cumprimentou ou não cumprimentou, a ausência de artistas de primeira linha, a pobreza de vocabulário, o estilo eleitoralista e sectário, a maneira como se dirigiu aos que o rodeavam, o próprio baile que se seguiu, tudo contribuiu para intermináveis discussões que ainda se prolongam. Dois aspectos particularmente maus: o conteúdo do discurso em si e as manifestações contra. Proferiu uma miserável arenga de campanha, absolutamente divisionista, que em nada servirá para unir o país. Desfiou uma data de chavões, de frases feitas básicas e de slogans populistas, prometendo tudo e mais alguma coisa como se fosse mágico ou omnipotente. A frase que melhor resume é esta (referindo-se ao crime de rua): "this american carnage stops right here and stops right now". Até agora, não parece que o crime tenha desaparecido. E mais prometeu que se acabaria a desobediência com a polícia. Se as coisas já andavam tensas nessa matéria, é de esperar o pior (irá ordenar à polícia que massacre quem lhe desobedeça?). E o mesmo se aplica ao radicalismo islâmico, que prometeu "erradicar". E, como muito repararam, não se referiu uma única vez ao valores americanos nem aos founding fathers ou a qualquer outra figura histórica.

Eis a face de Trump, e os seus aspectos mais negativos: mais do que o ar de boss e a inspiração em alguns dos piores aspectos dos Estados Unidos, mais do que a incapacidade discursiva e o ar de gorila alaranjado, é esta convicção de que tudo pode e de que não tem de ouvir ninguém, ou pelo menos ninguém fora do seu círculo, que o torna mais perigoso. Já é o Presidente americano e já demonstra todo a sua incapacidade e falta de estaleca para o cargo. Pormenor lateral mas ilustrativo: o tipo nem sabe apertar devidamente o casaco e apresentou-se ao mundo com a gravata a esvoaçar.

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E depois o outro aspecto negativo, esse nos antípodas: as manifestações violentas de grupelhos como o Black Bloc, que para onde vão, divertem-se a partir montras e carros e a atirar objectos à polícia. Tendo em conta que em Washington quase ninguém votou em Trump, é caso para perguntar qual é a culpa das montras. Claro que não é nenhuma, mas é o pretexto mínimo para que grupos de marginais e cultores de violência urbana possam dar azo aos seus passatempos. Depois não admira que parte da população vote nos Trumps desta vida, que prometem a erradicação do crime e da violência das ruas. São alimento recíproco e pasto para disparates dos dois lados. No fundo estão todos bem uns para os outros.

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