A prova de que as ideologias não morreram é que as encontramos em todas as discussões da actualidade, e a pandemia que atravessamos não é de modo algum excepção. Com menor ou maior discrição, erguem-se vozes a vituperar o neoliberalismo e o seu abandono dos cidadãos e das funções essenciais do estado, a começar pela saúde, ou o socialismo, responsável pela crise, pelo seu encobrimento e pelas suas respostas ineficazes. Isto a juntar às inevitáveis teorias da conspiração, em que se vê de tudo. Já encontrei dedos apontados aos chineses, aos americanos, a Bill Gates, à maçonaria, ao globalismo e não há de faltar muito para que se incluam George Soros, os judeus (com a sub-secção dos Rotschild), os extreterrestres e os Iluminatti.
Mas o que interessa aqui é mesmo a ideologia. É sabido que em graves crises a tendência é para unir esforços e dar-se importância ao pragmatismo. Veja-se o governo nacional no Reino Unido, durante a II Guerra, em que Churchill formou um Gabinete de Crise e um governo de unidade nacional chamando Clement Attlee para número dois, além de outros membros dos partidos Trabalhista e Liberal. Em tempos da maior ameaça, com as ilhas britânicas como único baluarte europeu contra a agressão nazi, houve necessidade de reunir forças na luta contra a ameaça à pátria e a civilização.
Lembrei-me disso depois do discurso de Páscoa de Boris Johnson, quando saiu do hospital. Para além dos elogios pessoais aos enfermeiros Luís "near Porto" e à neozelandeza Jenny, que tanto ecoaram nos respectivos países, o primeiro-ministro não se cansou de exaltar e elogiar o afamado Serviço Nacional de Saúde britânico. Tem a sua graça ver estes elogios da parte de um líder conservador. O National Healthcare Service é, não nos esqueçamos, uma criação do governo trabalhista pós-guerra de Attlee, que sucedeu a Churchill (que voltaria a tomar o lugar do trabalhista depois). Na altura, muitos acusaram a "deriva socialista" da medida, mas o certo é que mais nenhum governo, nem o de Thatcher, que apostava na diminuição do peso do estado, se atreveu a acabar com ela, ainda que tivesse havido cortes, emagrecimentos e concorrentes. O serviço nacional de saúde tornou-se ele próprio num instituição britânica, que como se sabe, são coisas particularmente defendidas naquele país. Como dizia alguém recentemente, o National Healthcare Service é "the closest thing the english people have to a national religion", não esquecendo a igreja anglicana.
Tem o seu significado ver essa criação trabalhista de Attlee ser tão elogiada por um primeiro-ministro conservador, logo Boris que tantas vezes evoca Churchill, sobre quem até escreveu livros. A sua experiência recente no hospital ajudou, claro. Mas em tempos de crise, repito, opta-se pelo pragmatismo em lugar das trincheiras ideológicas. As ideias e a política não desapareceram, mas pode-se extrair o que de melhor há nelas - neste caso, um serviço nacional de saúde forte e preparado e a contribuição generosa da sociedade e dos particulares. Ambos são necessários e preciosos. Não para se curvar perante unanimismos mas para unir esforços no sentido de defender a nação, os cidadãos e o bem comum.
Lembrei-me disso depois do discurso de Páscoa de Boris Johnson, quando saiu do hospital. Para além dos elogios pessoais aos enfermeiros Luís "near Porto" e à neozelandeza Jenny, que tanto ecoaram nos respectivos países, o primeiro-ministro não se cansou de exaltar e elogiar o afamado Serviço Nacional de Saúde britânico. Tem a sua graça ver estes elogios da parte de um líder conservador. O National Healthcare Service é, não nos esqueçamos, uma criação do governo trabalhista pós-guerra de Attlee, que sucedeu a Churchill (que voltaria a tomar o lugar do trabalhista depois). Na altura, muitos acusaram a "deriva socialista" da medida, mas o certo é que mais nenhum governo, nem o de Thatcher, que apostava na diminuição do peso do estado, se atreveu a acabar com ela, ainda que tivesse havido cortes, emagrecimentos e concorrentes. O serviço nacional de saúde tornou-se ele próprio num instituição britânica, que como se sabe, são coisas particularmente defendidas naquele país. Como dizia alguém recentemente, o National Healthcare Service é "the closest thing the english people have to a national religion", não esquecendo a igreja anglicana.
Tem o seu significado ver essa criação trabalhista de Attlee ser tão elogiada por um primeiro-ministro conservador, logo Boris que tantas vezes evoca Churchill, sobre quem até escreveu livros. A sua experiência recente no hospital ajudou, claro. Mas em tempos de crise, repito, opta-se pelo pragmatismo em lugar das trincheiras ideológicas. As ideias e a política não desapareceram, mas pode-se extrair o que de melhor há nelas - neste caso, um serviço nacional de saúde forte e preparado e a contribuição generosa da sociedade e dos particulares. Ambos são necessários e preciosos. Não para se curvar perante unanimismos mas para unir esforços no sentido de defender a nação, os cidadãos e o bem comum.
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