A última semana tem sido demasiado necrológica. Começou com a morte de Armando Marques Guedes, o primeiro presidente do Tribunal Constitucional, um Senhor que aos noventa anos ainda exercia o cargo de provedor dos CTT, que se destacou no Direito Internacional, Marítimo e da Guerra, e que tive o prazer de conhecer há anos, enquanto auditor de um curso de política externa, além de ser o Pai de uma pessoa de que me prezo de ser amigo. Acreditava que o futuro da Europa não estaria isento de secessões, e a escalada catalã pode vir a dar-lhe razão.
Depois Eric Hobsbawm, um dos mais conhecidos historiadores da actualidade, tão cosmopolita que que viveu em Alexandria, Viena, Berlim e Londres. Historiador rigoroso, a sua crença marxista não o impediu, ao contrário do que algumas críticas lhe apontam, de não ser cego perante o "socialismo real". Destacou-se por inúmeras obras, a mais conhecida das quais é A Era dos Extremos, um livro que me deram nos meus dezoito anos e que conta a história do século XX. Uma curiosidade, capaz de pôr Manuel Loff aos saltos: Hobsbawm, apesar de marxista, não considerava que Salazar fosse fascista. E pelo seu obituário, soube igualmente da morte recente de outro importante historiador britânico: John Keegan.
Há dias desapareceu Margarida Marante, de ataque cardíaco. Habituou-nos ao seu estilo de entrevistadora impetuosa, agressiva mesmo, uma imagem de marca que mais ninguém conseguiu alcançar (Moura Guedes tentou-o, mas de uma forma mais teatral e desinformada). Era uma das estrelas da televisão de qualidade e das grandes entrevistas de uma certa época, em tempos de maioria cavaquista, e que bem falta nos faria hoje. Nos últimos anos deixou a comunicação social, era sobretudo notícia por más razões, e entrou num declínio irreversível. Nas mais recentes imagens aparecia gordíssima, quase disforme. E tinha apenas 53 anos...
Ontem, finalmente, o Professor Nuno Grande. A notícia não espantou, dado o seu muito debilitado estado de saúde. Teve alguma participação política supra-partidária (soube apenas agora quer tinha sido mandatário da candidatura presidencial de Maria de Lurdes Pintassilgo), mas ficou mais conhecido por ser o fundador do Instituto Abel Salazar (ICBAS) do Porto e pela sua carreira académica e intervenção cívica. Gozava de um enorme respeito de todos. Pela minha parte, chegou a ser meu médico e ouviu-me em várias ocasiões. Era afável, tinha sentido de humor e arranjava sempre tempo para ouvir os outros. Vivíamos também na mesma rua. Infelizmente já não terei oportunidade de o ver passear na companhia da sua mulher, a Dr Ana Maria. Numa altura em que necessitamos mais do que nunca de uma intervenção cívica mais lúcida e pensada, é uma perda inestimável.
2 comentários:
João Pedro disse "chegou a ser meu médico..."
Coloco em causa a veracidade desta afirmação. Tive uma relação académica/profissional com o Prof. Nuno Grande e ele, apesar de formado em Medicina, dedicava-se exclusivamente ao ensino e investigação, não exercendo a profissão de Médico. E "aconselhar" alguém sobre a sua saúde não é o mesmo que "ser meu médico".
Caro Miguel Dias, não sei em que altura é que trabalhou com o Professor Nuno Grande, mas pode querer que era verdade. Exercia activamente medicina, pelo menos até a segunda metade dos anos noventa, e tinha consultório na Rua de Camões.
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