Morreu Giulio Andreotti, "Il Divo" da política italiana, aos 94 anos. Terá sido provavelmente a figura tutelar da 1ª república italiana, onde ocupou todos os cargos: membro da câmara dos deputados desde o início do regime, em 1946, ministro de quase todas as pastas, primeiro-ministro por várias vezes, entre os anos setenta e oitenta, e por fim senador vitalício. Só não ocupou a cadeira da presidência da república porque não lho permitiram, observadas as suas ligações suspeitas com círculos da máfia.
O regime que simbolizou, a 1ª república italiana, e o partido que dirigiu, a Democracia-Cristã, já se tinham estilhaçado sob o peso da corrupção e dos jogos de poder onde se mantinham sempre as mesmas formações partidárias (a começar pelo seu), e para os quais Andreotti muito tinha contribuído. Desapareceu agora o seu máximo representante, uma relíquia política apenas com peso simbólico, mas que conseguiu escapar sempre das acusações mais graves que lhe fizeram. Corcovado, com pequenos olhos melífluos, grandes óculos de massa e um rosto pouco expressivo (ou de expressão misteriosa), Andreotti era certamente um cultor de Maquiavel, com cujo nome era aliás apelidado, e provavelmente descendia de políticos florentinos do Renascimento, ou de tribunos romanos intriguistas. Em todo o caso, era o melhor representante desses traços conspirativos bem italianos.
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