sexta-feira, maio 31, 2013

O Expresso ou um manifesto fraquinho do PSOE?


Quando leio um artigo de jornal sobre política internacional, ou sobre factos passados noutras paragens, longe ou perto, confio que tenham um mínimo de isenção. Não é o caso do último artigo de Angel Luis de la Calle no Expresso, sobre o que se passa em Espanha. Todos sabemos da delicadíssima situação do país vizinho, com um desemprego monstruoso, uma situação bancária insuportável, ameaças de separatismo, acusações à coroa e descrédito dos partidos políticos. Escrever sobre tudo isto pretensas colunas informativas com óbvios preconceitos políticos é mera desinformação grosseira. O título já é logo apocalíptico: "genocídio social a pretexto da crise". Depois, De la Calle afirma que  o governo do PP quer instalar um modelo de "neoliberalismo" e "neocon", como "a ala mais à direita do Partido republicano nos EUA". Se a comparação já é infeliz, a confusão de conceitos, entre um modelo económico e uma teoria política, ainda é mais. Com a inevitável farpa à influência da "hierarquia católica", nos casos do aborto, células estaminais e eutanásia, acaba eloquentemente a declarar que "a maioria da população(...) não está disposta a seguir a tendência nacional-populista (deus, pátria e família) que tenta impor-se na Europa". A conclusão não é apenas facciosa: é puramente estúpida, porque além de na Europa a trilogia "Deus-Pátria-Família" tem sido severamente fustigada e mesmo abertamente desdenhada, o autor parece não se lembrar que foi precisamente depois de instaurar medidas fracturantes e regras aberrantes (como a permissão de aborto abaixo dos 16 anos sem permissão dos pais, ou a imposição do politicamente correcto nas escolas) que o PSOE teve a sua maior derrota de sempre e o PP a maioria mais ampla.
De La Calle pode ser um saudosista da república a vontade, mas pede-se-lhe que comente a situação com factos e descrições, não com opiniões pouco isentas que levem o português ao engano. Para ler panfletos políticos vou à procura de um, não preciso de abrir a secção Internacional do jornal Expresso.

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