Quando leio um artigo de jornal sobre política internacional, ou sobre factos passados noutras paragens, longe ou perto, confio que tenham um mínimo de isenção. Não é o caso do último artigo de Angel Luis de la Calle no Expresso, sobre o que se passa em Espanha. Todos sabemos da delicadíssima situação do país vizinho, com um desemprego monstruoso, uma situação bancária insuportável, ameaças de separatismo, acusações à coroa e descrédito dos partidos políticos. Escrever sobre tudo isto pretensas colunas informativas com óbvios preconceitos políticos é mera desinformação grosseira. O título já é logo apocalíptico: "genocídio social a pretexto da crise". Depois, De la Calle afirma que o governo do PP quer instalar um modelo de "neoliberalismo" e "neocon", como "a ala mais à direita do Partido republicano nos EUA". Se a comparação já é infeliz, a confusão de conceitos, entre um modelo económico e uma teoria política, ainda é mais. Com a inevitável farpa à influência da "hierarquia católica", nos casos do aborto, células estaminais e eutanásia, acaba eloquentemente a declarar que "a maioria da população(...) não está disposta a seguir a tendência nacional-populista (deus, pátria e família) que tenta impor-se na Europa". A conclusão não é apenas facciosa: é puramente estúpida, porque além de na Europa a trilogia "Deus-Pátria-Família" tem sido severamente fustigada e mesmo abertamente desdenhada, o autor parece não se lembrar que foi precisamente depois de instaurar medidas fracturantes e regras aberrantes (como a permissão de aborto abaixo dos 16 anos sem permissão dos pais, ou a imposição do politicamente correcto nas escolas) que o PSOE teve a sua maior derrota de sempre e o PP a maioria mais ampla.
De La Calle pode ser um saudosista da república a vontade, mas pede-se-lhe que comente a situação com factos e descrições, não com opiniões pouco isentas que levem o português ao engano. Para ler panfletos políticos vou à procura de um, não preciso de abrir a secção Internacional do jornal Expresso.
De La Calle pode ser um saudosista da república a vontade, mas pede-se-lhe que comente a situação com factos e descrições, não com opiniões pouco isentas que levem o português ao engano. Para ler panfletos políticos vou à procura de um, não preciso de abrir a secção Internacional do jornal Expresso.
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