A história de Paulo Portas não é das mais virtuosas, embora seja das mais interessantes da política deste regime (as duas coisas terão provavelmente proporção directa). São bem conhecidos os seus ataques, por vezes injustos e exagerados, quando dirigia o Independente, a forma como aos poucos retirou o apoio a Manuel Monteiro, ocupando-lhe sem seguida o lugar à frente do partido, ou como rebentou com a AD que acordara em conjunto com Marcelo Rebelo de Sousa, ou ainda o golpe contra a liderança de Ribeiro e Castro. São também por demais conhecidos os rocambolescos casos com a Universidade Moderna, com o processo de aquisição dos submarinos alemães, com as fotocópias do Ministério da Defesa, etc. É verdade que pelo meio lhe puxaram o tapete algumas vezes (o próprio Monteiro, com a saudosa história da caneta que não escrevia para não votar em Portas para líder parlamentar), e nunca como neste Governo, em que o desrespeito de Passos Coelho e Vítor Gaspar pelo CDS se tornou mais que evidente.
Ainda assim, a jogada de Paulo Portas teve riscos mais que evidentes, a começar pelo trambolhão das bolsas e da subida vertiginosa das taxas de juro (os mercados, como sempre, "enervaram-se"), e por não ter dito nada ao partido nem aos mais próximos. Os riscos eram que o Governo caísse ali mesmo, como teria acontecido caso Coelho tivesse dado azo à sua louca ideia de prosseguir sozinho. Agora, depois de todas as ameaças de instabilidade, Portas conseguiu forçar a sua nota nas negociações. Com o beneplácito de Cavaco, conseguiu ser nomeado Vice-Primeiro-Ministro, um cargo que já não existia há vinte anos (o último fora Eurico de Melo) e ainda ficar responsável pelas negociações com a Troika (que fica a fazer Poiares Maduro?) e pela anunciada reforma do Estado. Prefiro, obviamente, que seja ele a tratar destes delicadíssimos dossiers do que um qualquer génio de gabinete ou um Relvas qualquer. Portas ganhou, para já, a sua parada e fica com quase tantos poderes como o Primeiro-Ministro, mesmo que não se saibam quais as outras alterações governamentais. Mas ao mesmo tempo, perdeu boa parte da face: afinal, a sua saída do Governo não era assim tão "irrevogável", a não ser que nos convença de que se estava referir ao cargo concreto de MNE. Mas também não seria a primeira vez: lembram-se de quando ele disse que o CDS "não tinha emenda" e que não queria ser candidato a líder, e passados dias lá estava ele a ser empossado à frente do tal partido "sem emenda"?
Ao menos que o país fique a ganhar com estas alterações políticas surgidas com a enésima jogada política arriscada de Portas.
PS: a definição e competências de um Vice-Primeiro-Ministro pode ser encontrada na recente Enciclopédia da Constituição Portuguesa (Quid Juris, pág. 390), por Francisco Pereira Coutinho. A de Primeiro-Ministro também lá se encontra (pág. 293), tendo sido escrita pelo autor destas linhas.
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