Há jogadores que parecem feitos de encomenda para o clube que representam, e mais ainda, para a cidade defendida por esse clube e para os seus símbolos. Francesco Totti joga na AS Roma há mais de vinte anos. Aí por 2000, altura em que os clubes da capital romperam brevemente o domínio nortenho do futebol italiano, a Roma veio jogar ao Bessa com o Boavista, também a atravessar uma época memorável. A squadra romana era fortíssima, e caiu alguma decepção sobre o público quando se soube que Batistuta, o inesquecível artilheiro argentino, então na Roma, falhava o jogo por lesão. Mesmo assim, os romanos ganharam (ajudados por uma das piores arbitragens que tenho visto, é certo) e seguiriam em frente na competição da UEFA. À saída, vi passar duas das principais figuras do clube: o todo-respeitado treinador Fabio Capello e o capitão e estrela da equipa Francesco Totti, a quem pedi um autógrafo, que me rabiscou quase sem me olhar, como um deus do Olimpo passeando entre vis mortais.
Passados estes anos todos, muitos jogadores despontaram nas arenas e delas desapareceram, vários clubes se sucederam na domínio da competição e as equipas italianas estão longe dos seus melhores anos, mas Totti, com quase 40, continua a ser o capitão e estrela indiscutível da "sua" Roma. Mesmo num país onde a longevidade dos jogadores e a fidelidade ao símbolo é normal, não deixa de impressionar. Totti teve a possibilidade de ir para outros clubes, como o Real Madrid, mas nunca abandonou a casa mãe, mesmo que isso lhe desse poucos títulos (embora também os tenha, e não são menores: pelo meio ganhou uma Bola de Ouro de melhor marcador da Europa e sagrou-se campeão do Mundo em 2006, com a selecção italiana). Identifica-se com a Roma e com Roma, com o seu histrionismo em jogo, o seu catolicismo e, porque não, a sua antiguidade.
Este fim de semana marcou os dois golos da equipa no sempre quente derby contra a rivalíssima Lazio, no Olímpico da capital, que acabou empatado. No momento de festejar um deles, comemorou com um dos actos mais universais da actualidade efémera: tirou uma selfie, que registou a sua pose gozona e a claque em fundo, que com toda a certeza, o aclamava. Gestos só permitidos à rara estirpe dos que, mais do que talentosos, são símbolos vivos do jogo e dos seus clubes
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