Há cem anos surgia a revista literária que deixaria a já de si caótica 1ª República em estado de ebulição. O Orpheu surgiu com estrondo e desapareceu como um meteoro, com apenas dois números, suficientes, no entanto, para mostrar ao país a mais brilhante geração artística e literária daquele século que ainda estava no início. Por entre os ecos da Grande Guerra, em que Portugal ainda não se tinha envolvido, a "ditabranda" de Pimenta de Castro e o regresso ao poder dos "demagogos" republicanos, a Orpheu revelou o inclassificável Fernando Pessoa, na companhia de Caeiro, Reis e Campos, o genial Almada Negreiros, o efémero Santa-Rita Pintor, o derrotista Mário de Sá Carneiro, o autêntico louco Ângelo de Lima, e ainda Luís de Montalvor, José Pacheko, Alfredo Pedro Guisado, etc. O modernismo e o futurismo em Portugal sairiam desta revista e dos génios de todos estes artistas. Se a publicação duraria apenas mais um número, a sua influência perduraria pelas décadas fora, e alguns dos nomes que a compunham mais ainda.
Não deixa de ser curioso que exactamente cem anos depois desapareça Herberto Hélder, considerado o nome maior (ao lado de sophia, é certo) da poesia portuguesa desde o Orpheu, e particularmente, desde Pessoa.
Leia-se, já agora, este artigo de António Valdemar, no Público, que menciona as discordâncias políticas no seio do Orpheu e o conflito que surgiu a propósito da célebre "fuga" de Afonso Costa de um eléctrico, (ao ouvir um estampido, julgando que era um atentado contra ele próprio)
Quem estiver por lá pode, até dia 29 de Março, ver a exposição Almada Negreiros: o que nunca ninguém soube que houve, no Museu da electricidade, em Lisboa. Não é bem, bem inédito, mas é sempre interessante e está situado no belíssimo edifício industrial da Central tejo.
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