segunda-feira, abril 27, 2015

As razões da nova AD




Entretanto, à direita, a ilusão dos nossos dias é a de permanecer no poder, coisa que parece pouco provável. Uma vez que hoje em dia as sondagens são permitidas e constantes (embora isso não agrade a Paulo Portas), não se afigura muito fácil. Por isso, o anúncio da coligação eleitoral para as legislativas aparece como fuga para a frente em resposta ao programa do PS. Pode-se perceber como mensagem cá para fora de que os partidos do governo estão unidos, e para aproveitar as sobras que o método de hondt concede. Mas tem os seus riscos, nomeadamente para o CDS, que nas listas conjuntas deverá perder deputados e que assim perde qualquer hipótese de ser uma hipotética muleta de um governo minoritário do PS. E sobretudo recorda-nos que nas duas vezes em que estes dois partidos fizeram uma coligação pré-eleitoral com a democracia já madura (ou seja, excluindo a AD original), nas Europeias de 2004 e 2014, os resultados foram muito pobres. Pode-se considerar o tudo ou nada dos partidos do actual governo. Se ganharem, vêem legitimado o rumo que traçaram e ganham solidez. Se perderem, terão de aguentar uma coligação parlamentar na oposição e fazer a respectiva travessia no deserto. 

Já as reacções à notícia da coligação forma díspares e em certos casos infelizes: António Costa considerou que não trazia novidade nenhuma e que se trata de um casamento por conveniência, o que em certa medida é verdade. Catarina Martins, do Bloco, diz mais ou menos o mesmo, também falando do "casamento de conveniência". Não sendo mentira, não deixa de ser irónico que tenha sido afirmado pela coordenadora de um movimento que aglutinou grupos de esquerda (trotsquistas, maoístas, ex-comunistas, etc) que uns anos antes se odiavam de morte e se acusavam mutuamente das piores coisas. Aliás, com as saídas recentes, isso ainda se tornou mais cristalino. Se o BE não é ele próprio um casamento de conveniência, então não sei que será.

A reacção menos esperada mas sem dúvida mais sectária é a de Jerónimo de Sousa, que acha que o anúncio da coligação num 25 de Abril é "um insulto" à data, porque, no seu entender, é a força "que esteve contra o 25 de Abril". Mais uma vez, o PCP acha que só a esquerda (ou o que os comunistas entendem que é a esquerda) tem legitimidade política no pós-25 de Abril, que tudo o que está à direita é necessariamente salazarista, e que por isso não tem lugar no actual regime. Ou seja, acha-se dono do 25 de Abril, numa visão que transforma a data não na instauração de um regime democrático mas sim na de um revolucionário de esquerda, quando a intenção nem era essa. Concluindo, o PCP não mudou quase nada desde 1975 e ainda não se apercebeu que a grande maioria dos eleitores não vota nele. Deve ser por isso que cada eleição é sempre uma vitória. Já agora, a CDU também não é um casamento por conveniência? Tendo em conta que os Verdes são uma criação do PCP sem qualquer autonomia, aquilo nem é de conveniência, é mesmo um casamento forjado.

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