Antes da festa da Ressurreição, um enterro definitivo. Depois da surpreendente descoberta no subsolo de um parque de estacionamento (onde outrora existira uma igreja), em Leicester, dos restos mortais de Ricardo III, último monarca da dinastia dos Plantagenetas, vilipendiado por Shakespeare na peça que leva o seu nome (e que daria máximas tão conhecidas como "Este é o Inverno do nosso descontentamento", que teria o seu aproveitamento político nos anos 1970, e "Um cavalo, um cavalo, o meu reino por um cavalo") como usurpador e autor moral do assassínio do seu sobrinho Henrique V, e por isso pouco popular na história de Inglaterra, comprovada por investigações científicas do seu ADN, teve lugar a cerimónia de colocação das suas ossadas no repouso definitivo - a catedral de Leicester - e mais digno do que a anterior moradia. Certamente que terão mais sossego com uma certa recuperação da sua imagem e sem carros a passar por cima.
Cereja em cima do bolo, entre os dignatários, como o Arcebispo de Cantuária, encontrava-se o ubíquo Benedict Cumberbatch, longínquo parente do rei morto e que até já o representou na peça de Shakespeare. Na Catedral, e entre a solenidade respeitada por toda a audiência, o actor leu um poema que reconciliou a memória do Ricardo III anos com a Inglaterra. O rei morto há mais de 500 anos tão tristemente celebrizado por Shakespeare pôde assim repousar em paz depois de cinco séculos atormentados pela fraca tumba e por uma reputação destruída.
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