Ainda reportando ao post anterior, se há coisa que me irrita profundamente é a eterna tentativa de culpabilizar ocidente por tudo quanto se mau há no mundo, como se outras civilizações fossem compostas por seres celestiais e amigáveis, onde não há maldade nem cobiça. Ao mesmo tempo, reconheça-se que o ocidente, muito embora seja motivo de inveja para outros, teve sérias responsabilidades (não equitativas entre os vários estados) nalguns dos piores problemas que o Mundo atravessa hoje.
Nesta crise de refugiados do Médio Oriente, há um país, em particular, que teve seríssimas responsabilidades e que é o primeiro a fugir delas: o Reino Unido. Em 1920, prometeu, pelo Tratado de Sèvres, um estado ao povo curdo, anulado pelo Tratado de Lausanne, de 1923, que riscou essas aspirações. No Mandato Britânico sobre a Mesopotâmia, até praticamente aos anos 40, juntaram sunitas, xiitas, assírios, curdos e outros no mesmo território que se tornaria no Iraque. Mais uma vez, a ideia de um estado do Curdistão ficou anulada. Muito mais tarde, os britânicos foram um dos esteios da invasão do Iraque de 2003, com os resultados conhecidos, e da Líbia, em 2001, e que indirectamente é uma das causas do êxodo de populações para a Europa. Verifica-se entretanto que é precisamente o Reino Unido um dos países mais renitentes e até hostis a receber refugiados, aproveitando-se talvez da sua condição semi-insular para os rechaçar, o que levou ao enorme acampamento em Calais. Depois de todas as suas responsabilidades nesta fuga em massa de África e do médio Oriente, as autoridades do pais que ergueu o maior império ultramarino de sempre, com possessões em todos os continentes, fecham-se a todos os que procuram auxílio, ao passo que os alemães, sempre tidos como os maus da fita europeus, perpetuamente recordados pelo seu papel funesto nas Guerras Mundiais, mas que não tiveram grande responsabilidade na actual situação, são os que mais lhes abrem os braços. Dá que pensar.
PS: exemplo flagrante do que escrevo no início do post é a recusa de outros países mais a Sul, sobretudo na Península Arábica, em receberem refugiados. Enquanto que no Líbano e na Jordânia esgota-se a capacidade de receber mais gente, os árabes do Golfo continuam a sua política de egoísmo extremo, ao fechar as suas fronteiras a quem foge da guerra (na qual esses mesmos estados têm evidentes responsabilidades). Se esta gente exigir algum tipo de solidariedade no futuro, para eles ou para outrém, que isto sirva de memória posterior.
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