Talvez a presidência de França se tenha começado a definir agora com as primárias dos Republicains, como se chama agora a ex-UMP. Quando se pensava que o candidato da direita tradicional sairia de entre Allain Juppé e Nicolas Sarkozy, eis que os eleitores voltaram a confundir as sondagens, tirando o tapete ao ex-presidente, que se ficou pelo terceiro lugar, e dando destacado triunfo ao ex-primeiro-ministro (da presidência Sarkozy) François Fillon. Agora a luta será unicamente entre Fillon e Juppé, também ele antigo primeiro-ministro. Se o primeiro representa uma direita economicamente mais liberal e socialmente mais conservadora, reunindo, na tipologia das direitas francesas, a ala liberal/orleanista e um punhado da gaullista/bonapartista, já Juppé, muito próximo de Jacques Chirac, é o lídimo representante do gaullismo que caracterizava o antigo partido RPR, que liderou, e como acontece em certos políticos de longa carreira, é maire de Bordéus há tempos ininterruptos (também Chaban-Delmas o fora) e já respondeu em tribunal por razões monetárias. Resta saber em quem vão votar as outras correntes minoritárias, como os radicais de direita, os centristas e os democratas-cristãos, sendo certo que toda a "direita republicana" se revê nos dois candidatos. E o mais provável é que o vencedor da contenda seja mesmo o próximo presidente francês. Marine LePen (que agrupa as restantes facções de direita, uma espécie de neolegitimismo e o poujadismo, tem subido gradualmente de eleição para eleição, e os recentes acontecimentos no Reino Unido e nos EUA deram-lhe ainda mais força, mas passando à segunda volta, como parece certo, conseguirá mais de metade dos votos?
A esquerda, enfraquecida, desacreditada e dividida entre um Partido Socialista agónico (que pode nem levar às urnas o actual presidente Hollande, tão desacreditado está), a Front de Gauche do trânsfuga Melanchon, que inclui o outrora influente PCF, e uns candidatos trotsquistas e ecologistas menores, não parece mesmo em condições de passar sequer a uma segunda volta. Assim, o próximo presidente de França seria o candidato da direita tradicional, que a avaliar pelas votações será François Fillon. Parece ser o mais lógico e o mais consentâneo com as sondagens, mas este último ano tem-se encarregue de fintar todas as previsões e toda a lógica e de desacreditar todas as intenções de voto.
Certo, certo, é que estas primárias tiveram um resultado certo e muito positivo: o fim político de Nicolas Sarkozy, um dos maiores bluffs que apareceram na Europa na última década. Ver tal criatura outra vez no Eliseu seria o descalabro (apesar de Bruni), depois da sua presidência de enganos e fachada e das suspeitas graves que caíram sobre ele. A política francesa ganha assim um tudo de nada de credibilidade.
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