Tal como vinha sendo anunciado desde o início do ano, o Diário de Notícias deixou mesmo a sua histórica sede na Avenida da Liberdade, em Lisboa, construída de propósito por Porfírio Pardal Monteiro para o albergar, que recebeu o Prémio Valmor e onde estava há 76 anos vindo directamente do Bairro Alto, esse antigo bastião da imprensa portuguesa, qual Fleet Street lisboeta (e a própria Fleet, coitada), onde só resiste inexpugnavelmente A Bola. O jornal com mais de 150 anos de idade vai-se transferir para umas incaracterísticas torres de betão e vidro, perto da segunda circular, um qualquer espaço moderno, asséptico e longe das ruas. O edifício, esse, será transformado em apartamentos de luxo, com a obrigação de conservar a fachada, as letras góticas anunciando o jornal e os painéis de Almada Negreiros, no átrio. Do mal o menos, fica o espaço físico da memória. Mas é mais um símbolo da imprensa e da vida urbana que deixa o centro de uma cidade reservado quase só para o turismo, a restauração e as habitações de preço superlativo. Os serviços, a actividade administrativa e económica e restante faina vão sendo empurrados para a periferia. Causa estranheza a indiferença com que o jornal teve de abandonar a sua casa. E no entanto, perante cenário idêntico, há já uns anos, houve um movimento que impediu que o edifício fosse então usado para outras funções, como testemunha Pedro Correia. Desta vez ninguém, ou quase ninguém, se mexeu, limitando-se a menear a cabeça melancolicamente.
Espero que a sede do JN, no Porto, aquele altaneiro edifício brutalista, não siga o mesmo destino em breve. A ameaça existe. Se a quiserem levar avante, terá de haver mais reacção do que com o DN. Para abandono de sedes históricas da imprensa já bastou (mais) esta.
Desenho de Stuart Carvalhais, natural da terra da minha Mãe, do ano da inauguração do DN |
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