quinta-feira, março 21, 2013

Enfim, Moreira



Rui Moreira apresentou oficialmente a sua candidatura. Não se tratou propriamente de uma novidade de estrondo, há meses que era esperada, e a questão era de quando seria lançada, para gerir prazos curtos ou pelo contrário, um tempo demasiado longo que fizesse passar o efeito esperado.

Em inícios de Fevereiro, com o lançamento de um manifesto cívico com o nome "Dar o Porto ao manifesto" (que o autor deste blogue subscreveu), e com posteriores elogios de Paulo Portas, a candidatura de Moreira estava praticamente selada. Ontem apresentou-se, no Mercado Ferreira Borges, símbolo do Porto liberal e burguês, ali a dois passos da Ribeira e da Bolsa onde se sedia a Associação Comercial do Porto, presidida pelo agora candidato. Perante algumas centenas de pessoas que enchiam a sala, num cenário de penumbra com fundo azul, apresentou os traços gerais da candidatura - coesão social, economia, cultura - e lançou aquele que muito provavelmente será o slogan principal: "o meu partido é o Porto". Caracterizou aquele movimento como apartidário (mas não anti-partidário), produto do "Porto liberal e empreendedor", e repetiu várias vezes as palavras "livre e independente". Não cessou de saudar as candidaturas já no terreno, de Menezes e Pizarro, mas lançou uma pequena farpa à primeira, quando disse que não tinha projectos de "negócios mirabolantes" nem queria "uma segunda ou terceira Barcelona" ou que o Porto seja "uma segunda Lisboa" (frase cujos direitos de autor primordiais cabem, se não me engano, a Paulo Rangel). Falou na importância do trabalho e da criatividade e na necessidade de interação entre a a câmara e as freguesias, as paróquias, associações de moradores, comerciais, etc. E frisou que em termos de rigor orçamental não se afastaria da política de Rui Rio, recordando a expressão popular "contas à moda do Porto".

Por vezes o discurso tornava-se algo redondo e repetitivo, mas a ideia de independência, liberdade e dinamismo ficou bem vincada. Era no fundo tudo o que se pretendia. A partir de agora, a candidatura de Moreira terá de se mostrar, de apresentar ideias concretas e de se libertar de uma certa conotação de movimento de quadros, apoiado pelas elites culturais e sociais da cidade, em busca dos votos da maior parte da população. Moreira é conhecido e popular, mas não terá tarefa fácil.

Lembrou ainda outro ponto: a de que era a primeira candidatura realmente independente a uma grande cidade em Portugal. Tivemos o precedente Sá Fernandes, em Lisboa, logo aproveitada pelo BE, com os resultados que se conhecem, e o de Helena Roseta, logo integrado no PS de António Costa. Rui Moreira colhe, à partida, os votos de grande parte do CDS, de importante quantidade do PSD e de umas franjas do PS. Mas numa altura em que os partidos não colhem grande popularidade e em que a partidocracia sofre acentuada erosão, é de esperar que colha muitos mais votos. É verdade que o CDS se prepara para dar o seu apoio a esta candidatura, mas sem obrigações para com qualquer aparelho político, evitam-se compromissos nocivos para a autarquia ou conflitos perniciosos, como aconteceu com Sá Fernandes e o Bloco.

Como se percebeu, o autor destas linhas apoia esta candidatura. Por razões positivas, mas também negativas. Luís Filipe Menezes e a clique que o rodeia representa o que de pior há no aparelhismo partidário (aliás, os ataquezinhos próprios da classe já começaram), bem representado pelo nepotismo político que colocou o seu filho no Parlamento e pelo inacreditável líder da concelhia do PDS-Porto. Além do mais, o edil de Gaia endividou o concelho até à medula, com obras muitas vezes espampanantes (veja-se o teleférico sobre o Cais de Gaia), a habitual "obra feita" de que tantos autarcas se gabaram e que levou tantas câmaras à situação de garrote financeiro em que se encontram. Menezes é um incoerente, que diz uma coisa numa semana e o seu contrário no mês seguinte, e sofre de uma instabilidade psicológica e emocional que ficou bem à vista na sua fugaz passagem pela liderança do PSD. Quanto a Manuel Pizarro, do que conheço, julgo ser um homem sério e com os pés assentes na terra, ainda que um pouco cinzento; mas está rodeado pelo PS Porto, que excepção feita a Francisco Assis e pouco mais, é tão mau ou pior que o PSD do mesmo distrito. É ver as traições e combates que se passam no PS de Matosinhos para se ficar com uma bela imagem do grupo.

Até por isso, por uma questão de higiene política e municipal, é desejável que a candidatura de Rui Moreira se implante no terreno e tenha sucesso. E que se isso acontecer, muitas mais se sigam. Para que os municípios se libertem enfim dos compromissos com as cúpulas dos partidos, das suas brigas e dos seus pequenos interesses de momento, que tão mau nome têm dado ao municipalismo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bem, subscrevo!

Joao Passos Dias Aguiar Mota