As esquerdas inauguraram com estrondo as questões fracturantes da nova legislatura, aprovando a adopção para casais do mesmo sexo, novas regras para a procriação medicamente assistida (que poderá incluir no futuro as célebres "barrigas de aluguer"), e claro, a revogação das alterações à lei do aborto (ou IVG, em linguagem assepticamente correcta). Se a primeira me deixa dúvidas, pelo conceito de família que introduz e à rapidez da discussão, e a segunda me deixa muitíssimas dúvidas (por me parecer mais uma forma de fabricar seres humanos, muito para além do normal tratamento à infertilidade), a última não me deixa nenhumas: trata-se de uma reviravolta ressabiada, para vincar a "união da esquerda", com um espantoso ódio à mistura, e que nem ao menos se lembra que surgiu por iniciativa cidadã. A conversa da "dignidade da mulher", do "só as mulheres decidem sobre o seu corpo", é sempre a mesma, sem nunca, mas mesmo nunca, referir que o que está em jogo está muito para além da disposição do próprio corpo. Fosse apenas isso e ninguém discutiria. Ainda por cima, a palavra que mais bradam é a da "hipocrisia", quando a hipocrisia suprema é a de virem falar minutos depois no "superior interesse das crianças". Ou seja, nos referendos do aborto diziam-nos que tudo seria feito com racionalidade, que ninguém era a favor do aborto, que era só para não punir as mulheres que o faziam ou para evitar o aborto clandestino, blá, blá, blá, e defendem agora regras que claramente promovem o aborto. Falarem ao mesmo tempo no "supremo interesse da criança" é um insulto à inteligência das pessoas. Fica a pergunta: que é que dizem a isto os democratas-cristãos Freitas do Amaral e Basílio Horta, que ainda bem recentemente afirmavam que a democracia-cristã se sentia muito bem no PS?
O facto de ainda não haver governo efectivo e de estas propostas já terem sido lançadas e votadas revela que a pressa em fazer valer o factor ideológico e fracturante era muito, e o desejo de ajustar contas também. Mas agora que estão esgotadas as questões fracturantes (ou segue-se algo pior?), onde é que as esquerdas vão arranjar agora factores de união?
2 comentários:
manifesto em divulgação
PROMOÇÃO DA MONOPARENTALIDADE SEM 'BELISCAR' A PARENTALIDADE TRADICIONAL
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Muitas mulheres heterossexuais não querem ter o trabalho de criar filhos... querem 'gozar' a vida; etc;
Muitos homens heterossexuais não querem ter o trabalho de criar filhos... querem 'gozar' a vida; etc;
CONCLUINDO: é uma riqueza que as sociedades/regiões não podem deixar de aproveitar - a existência de pessoas (homossexuais ou heterossexuais) com disponibilidade para criar/educar crianças.
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Mais:
- Já há mais de dez anos (comecei nos fóruns clix e sapo) que venho divulgando algo que, embora seja politicamente incorrecto, é, no entanto, óbvio: promover a Monoparentalidade - sem 'beliscar' a Parentalidade Tradicional (e vice-versa) - é EVOLUÇÃO NATURAL DAS SOCIEDADES TRADICIONALMENTE MONOGÂMICAS...
{ver blogs http://tabusexo.blogspot.com/ e http://existeestedireito.blogspot.pt/}
Ah, agora a nova causa fracturante é a monoparentalidade? Não percebi se isso é mera provocação ou se não leu o texto. Não, obrigado.
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