sexta-feira, janeiro 17, 2025

Vinte e um anos a blogar

Este blogue tem 21 anos, feitos hoje. Não é para todos. 

Era só para dizer isso.





sexta-feira, janeiro 10, 2025

O pretexto de Camilo

Do destino de rumar ao Panteão está o autor de A Queda de Um Anjo a salvo. Por sua expressa e perpétua vontade (antes de se matar?), Camilo Castelo Branco repousa no Cemitério da Lapa, no Porto, perto da escola onde Ramalho instruiu Eça e o coração de D. Pedro está guardado, sem receio de que o venham incomodar. Não fosse isto e já teria andado em bolandas entre o Porto, Samardã, Seide e o tal Panteão de Santa Engrácia, a não ser que os descendentes e órgãos deliberativos actuais sejam de tal forma insensíveis que não hesitem em violar esta sua vontade sagrada. É pouco provável, mas não impossível, se houver quem ligue mais aos restos mortais como "património cultural da nação" do que como pessoas (s)em carne e osso.



quinta-feira, janeiro 09, 2025

Eça no Panteão

Esta coisa de ver Eça no Panteão deixa-me de pé atrás. Cerimónia muito digna e bonita, pois claro, mas é o tipo de celebração que poderia figurar n´Uma Campanha Alegre.

Por mim, preferia vê-lo em Santa Cruz do Douro. Não pel´A cidade e as Serras, cuja conclusão bucólica se deve a um dos filhos do escritor e não ao próprio. Nem era a "terra onde ele nasceu", como vi alguns ignorantes escreverem, logo ele que esteve lá um par de vezes. E Eça sempre se sentiu bem em Lisboa. Mas pelo Panteão em si. Não bate certo. Está afastado do seu espírito, da sua prosa. Pena que Garrett não tenha tido honras de Panteão quando morreu, até porque este ainda não existia, mas assim veríamos os comentários de Eça.
Mas mais curiosidade teria de ver o escritor viver mais vinte anos: que diria da I República, da Grande Guerra, de Sidónio, ele que não era republicano e tecia larga crítica à monarquia liberal? Teria derivado para ideias republicanas, como os confrades Guerra Junqueiro ou Batalha Reis, ou inflectido para o Integralismo Lusitano, como o mestre e companheiro Ramalho Ortigão? Podemos sempre imaginar, mas teria sido interessante que José Maria Eça de Queiroz tivesse ficado por aqui mais uns tempos.








Coincidências

Ao contrário dos que acham que "isto está tudo ligado", ou que tudo está previsto, eu acredito nas coincidências. Plenamente. E não só acredito como tenho um fraco por elas. Fascinam-me. E esta semana houve duas curiosas.

Assim, comenta-se com entusiasmo a vitória de Fernanda Torres nos Globos de Ouro, tendo superado a própria mãe, (a superlativa) Fernanda Montenegro, que esteve nomeada para o mesmo prémio há 26 anos, mas não o ganhou (percebe-se, ganhou Cate Blanchett), por Central do Brasil, para o qual também ganharia uma nomeação para o Óscar.

A comparação é justa, mas ainda há outro elemento comum: é que tanto Central do Brasil como o novo Ainda Estou Aqui são ambos dirigidos por Walter Salles - que há meia dúzia de anos, por esta altura, esteve pessoalmente aqui no cinema Trindade para uma sessão especial dos 20 anos de Central.... E assim, mãe e filha são nomeadas e premiadas para os galardões mais conhecidos do cinema mundial pela mão do mesmo realizador. Segue-se o Óscar? Se assim for, Montenegro será novamente superada em prémios, mas que ninguém diga que não instruiu devidamente a filha.


Outra coincidência: há dez anos deram-se os ataques ao Charlie Hebdo e a morte dos seus cartoonistas às maõs de um comando islamita, que criou o slogan "Je suis Charlie", defendendo a liberdade de expressão (e usado muito hipocritamente, diga-se, por líderes e entidades políticas que mais não fizeram senão colocar obstáculos a esse direito). Na altura, Jean Marie Le Pen desvalorizou-os, dizendo que "o espírito de Charlie" era "a dissolução perfeita da moral política" e que os seus elementos pertenciam ao pensamento anarco-trotsquista.

Curiosamente LePen morreu exactos dez anos após o atentado. Sendo perfeitamente diversos, o refundador da extrema-direita francesa, legatário do petainismo, das OAS e dos movimentos dos anos 30 que colaborariam com os alemães, que começou a carreira política no Pujadismo, movimento defensor dos comericantes e agricultores, anti-CEE, desconfiado dos "políticos" e percursor do populismo dos nossos dias e os neo-trotsquisas libertários iconoclastas do Charlie Hebdo tinham como inimigo comum os muçulmanos, ou pelo menos o islamismo político. É duvidoso que se aplicasse aqui o chavão "inimigo do meu inimigo é meu amigo".