terça-feira, outubro 29, 2013

Lou Reed e Portugal

 
A morte de Lou Reed trouxe comoção e encómios de meio mundo, como se esperaria. Reed podia não ser o artista que mais discos vendeu nas últimas décadas, mas era sem dúvida um dos mais míticos e influentes. Desde os Velvet Undergound, grupo apadrinhado por Andy Warhol, ainda ele não tinha trinta anos. O primeiro álbum, mais conhecido pelo "álbum da banana", por causa do desenho de capa, teve escasso sucesso comercial, mas segundo Brian Eno, todos os que o compraram formaram a sua própria banda (Iggy Pop, David Bowie, etc). Passados os Underground, Reed encetaria uma carreira a solo colaborando com toda essa gente, durante décadas. O último trabalho, Lulu, em parceria com os Mettalica, espantou dada a diferença de estilos e não colheu grandes elogios da crítica. Ficará imortalizado por essa influência que teve em meio mundo do pop-rock, mas também por canções intemporais como Perfect Day ou Walk on the Wild Side.
 
Mas Lou Reed também veio algumas vezes a Portugal, à Praça Sony, no tempo da Expo 98, por exemplo, e ao Porto, dando aliás um concerto que inaugurou a Casa da Música. Na altura, Rui Veloso criticou a escolha do música, atitude surpreendente da parte de quem o mencionou no seu primeiro êxito, Chico Fininho (que ia pela Cantareira "gingando ao som do Lou Reed"). Só que as suas letras eram da autoria de Carlos Tê, que escreveu há uns anos uma reportagem (ou conto?), intitulado "um manjerico para Lou Reed" sobre uma vinda do músico ao Porto, nesses inícios dos anos oitenta, em que, desafiado ainda no comboio para conhecer a noite mais longa da cidade, que calhava precisamente naquela sua passagem, Lou Reed embrenhou-se no S. João portuense. Não se sabe se terá sido exactamente assim ou se Carlos Tê ficcionou, mas o que é certo é que no dia seguinte (presumo que a 24), o músico não compareceu ao concerto no velho pavilhão Infante de Sagres, a Serralves, cujos bilhetes estavam esgotados. Alguma razão haveria, e a noite sanjoanina é mais que suficiente.
Lou Reed, R.I.P., e que no teu túmulo, entre outras flores, se depositem manjericos.
 
 

Nenhum comentário: