segunda-feira, outubro 14, 2013

Os refugiados e a Vergonha


E enquanto nos debruçamos sobre a nossa politicazinha interna, os ajustes de contas,os jogos de palavras, as "irrevogabilidades", e as "incorrecções factuais", passou-se mais de uma semana desde o horrível naufrágio de passageiros africanos no Mediterrâneo, a menos de um quilómetro de Lampedusa. Trezentas e cinquenta pessoas, sobretudo eritreus e somalis, grande parte mulheres e crianças, perderam-se no mar. Pelo meio, Barroso e responsáveis italianos deslocaram-se à ilha para prestar homenagens às vítimas, e foram apupados pelos que assistiram a tudo aquilo sem poder fazer nada, para grande surpresa sua. Quem raramente anda fora dos corredores climatizados de Bruxelas talvez fique surpreendido, mas a verdade é que a UE andou este tempo todo indiferente à tragédia repetida dos refugiados que se fazem ao mar - excepto quando Kadhafi lhes servia e fazia de barreira a esses refugiados, mas desde que o poder verde na Líbia se desintegrou que deixou de haver qualquer controlo.
 
 
 
O Papa já tinha chamado a atenção para este problema, em Julho, aquando da primeira visita oficial do seu pontificado, precisamente a Lampedusa. A oportunidade e o simbolismo não foram por acaso. Na altura, viu-se aquilo como uma visita de caridade e pouco se  ligou. Agora, face à magnitude da tragédia, é impossível virar os olhos. Parece que finalmente as autoridades europeias e italianas se decidiram a fazer alguma coisa. Acredito que a voz trémula de Durão depois de ver as urnas dos mortos (e nem todos foram encontrados) fosse sincera, mas tivemos de chegar a um acidente destas proporções para que alguma coisa fosse feita. Entretanto, houve novo naufrágio, igualmente com vítimas, embora bastante menos. Palavras e boas intenções, só por si, não auxiliam os náufragos.
 
O Papa voltou a falar, com a autoridade moral que tem para o fazer, ele que alertou antes de todos para o que se vivia ali. Quando disse que havia temas importantes mas que não podíamos viver obcecados com eles, era disto que estava a falar. Quantas pessoas que dissertaram e se manifestaram a propósito do casamento gay, por exemplo, escreveram alguma coisa sobre o drama dos refugiados?
A situação resumiu-se bem na palavra que o Santo Padre usou para a classificar: "Vergonha". Estamos demasiado ocupados para prestar atenção ao que se passa à nossa porta. Isso sim, devia ser razão de vergonha.
 

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