Este ano está a ser frutífero em eleições. Curiosamente, não há legislativas em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Alemanha ou Estados Unidos. Mesmo assim, é das matérias de que mais se ouve falar em 2014. Só no Domingo houve quatro.
Da Tunísia sei apenas que os liberais seculares terão vencido os islamitas o confronto eleitoral local, o que confirma aquele pequeno país como um dos mais estáveis no Norte de África (ali mesmo ao lado, na Líbia, ninguém sabe quem manda onde). No Uruguai haverá uma segunda volta com o presidente de há uns anos atrás, Tabaré Vasquez, e o candidato do Partido Nacional, e pelos resultados e pela tendência dos últimos anos, o mais provável é o primeiro regressar ao seu antigo gabinete. Pela república oriental pouco mudará.
No Brasil ganhou Dilma, como temia (mas não espanta). Seria sempre difícil que os votos de Marina fossem em número suficiente para levar Aécio Neves ao Planalto. Previsivelmente, Dilma haveria de obter alguns, além das outras pequenas forças maioritariamente de esquerda que se apresentaram às presidenciais no primeiro turno. Mas ao contrário do que se veiculou, sobretudo na dura, e por vezes irracional ao histerismo, campanha eleitoral, não havia simplesmente um bloco de esquerda contra um de direita: ao lado do Partido dos Trabalhadores estava o PMDB, exemplo acabado do partido de centrão sem ideologia com o objectivo único de participar do poder, e o Partido Progressista, partido mais à direita, legatário da ARENA (o partido do poder durante a ditadura). Com o PSDB, acusado por vezes de ser "neoliberal", estavam o Democratas (esse sim, de direita liberal, aliás antigo Partido da Frente Liberal), e o Partido Trabalhista, herdeiro directo do de Getúlio Vargas e um dos "guardiões" do seu legado, e ainda o Partido Socialista, que apoiou Aécio na segunda volta depois de suportar Marina Silva e o malogrado Eduardo Campos.
Dilma terá pela frente uma economia a abrandar, protestos latentes da população, como se verificaram nos dois últimos anos (espera-se para ver o que vai suceder nos Jogos Olímpicos do Rio) e a sempiterna questão da corrupção, não menos importante do que as outras quando os eleitores se estão visivelmente menos tolerantes e que os dois grandes partidos que a apoiam, PT e PMDB, controlam o aparelho de estado. Quatro anos previsivelmente complicados (ou reformistas?), sendo que Dilma não se pode recandidatar. Conseguirá Aécio aproveitar o embalo destas eleições para se guindar à presidência em 2018, ocupando o lugar que o seu avô Tancredo não conseguiu, por morte antes da tomada de posse?
E por fim na Ucrânia, uma grande volta ao anterior cenário, como não podia deixar de ser, na sequência da revolta de Maidan, da anexação da Crimeia e do isolamento de Donetsk e Lugansk. O Partido das Regiões, formação russófona que estava no poder e em maioria no parlamento, nem se apresentou, e o bloco que o substituiu teve resultados modestos (nas zonas onde há mais russófonos teve melhores votações, como seria de esperar). O Partido comunista, visto como quinta coluna da Rússia, quase desapareceu e nem entrou no parlamento. A extrema-direita banderista, com influência sobretudo na rua, também não. E a outrora líder maternalista (antes de ser presa) da Ucrânia, Yulia Timoshenko, teve um resultado decepcionante, pouco mais de 5%, e por pouco também não entrava na Rada. As formações do presidente Poroshenko, do primeiro-ministro Yatseniuk e do presidente da câmara de Lviv, no extremo-ocidental do país, ficaram com a maior parte do bolo. A bússola política alterou-se drasticamente, para oeste. Embora rivais, os partidos vencedores têm sobretudo semelhanças. A Ucrânia voltou-se para a Europa, de costas para a Rússia, confirmando as tendências do último ano. Graças a isso, conseguiu já um acordo para o pagamento do gás natural ao vizinho gigante, mas as questões dos territórios perdidos ameaçam complicar-se. Pelo menos, a retórica de que em Kiev o governo é ilegítimo e que mandam "nazis" já se pode esbater, embora a propaganda pró-russa deva continuar a explorar esse filão por muito tempo.
2 comentários:
Amigo, Aécio não consegue ser o candidato do PSDB. Perdeu a eleição nacional e em Minas. E só teve votação expressiva com o apoio dos votos retrógrados de São Paulo. O candidato do PSDB em 2018 já tem nome: Geraldo Alckmin. Serra é apenas um senador, sem força para distribuir benesses em troca de apoios.
é cedo ainda para vermos isso. Mas recordo que Alckmin, apesar do grande apoio da rectaguarda paulista, já teve a sua oportunidade em 2006 e com muito menos votos que Aécio. Este pode aproveitar a visibilidade no senado, o facto de ser mais novo e o de usar o apelido prestigiante do seu avô.
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