Há muito tempo que não tinha um fim de semana tão compensador como o que passou. Com um tempo de verão, vitória no Quiz de Cascata, uma proeza que há anos não se verificava (e logo a seguir à extensa reportagem da Notícias Magazine que saiu na semana passada, precisamente sobre este evento mensal praticado por umas dezenas de maníacos numa patusca colectividade de bairro, na Ajuda; a propósito da pergunta que surge logo no início, feita pelo autor deste texto, deverei escrever brevemente um post sobre D ´Annunzio e os seus feitos de guerra). Serviu também para conhecer enfim o Corredor Verde de Lisboa, projecto de Gonçalo Ribeiro Telles, que teve de esperar anos e anos até o ver concretizado. Serviu para rever amigos e as noites soalheiras de Lisboa. Serviu, finalmente, para poder ir à final da Taça de Portugal, no Jamor, como se quer, numa tarde de sol. Nos 75 anos da Taça e nos setenta anos do Estádio Nacional, o Benfica voltou a erguer o caneco, pela 25ª vez.
O Estádio Nacional, que só conhecia de longe, é tão esteticamente interessante como parece visto na televisão. A mata que o rodeia protege-o da paisagem suburbana que se acumulou ao longo do tempo e do ruído dos nós rodoviários. Conserva-o como um local mítico do desporto português, o recinto onde se jogou a final da Taça dos Campeões europeus, em 1967 (em que o Celtic de Glasgow derrotou o Inter de Milão tornando-se o primeiro clube não latino a conquistar o troféu), onde se jogaram muitos desafios da Selecção Nacional e a maior parte das finais da Taça. É certo que lhe faltam alguns aspectos que se foram pensados ao longo do tempo para outros estádios - não tem cobertura, balneários, a iluminação é deficiente e os acessos limitados - mas tem uma elegância clássica, dadas as influências estéticas da altura da sua construção, os anos quarenta, que seguiam o "modelo totalitário" em voga, que compensa isso tudo.
E depois, o resultado: a vitória do Benfica, juntando a Taça ao Campeonato e à Taça da Liga, o falado "triplete", que escapou no ano passado, e que compensou em parte a malapata da final europeia. Desde 1987 que o SLB não juntava os dois mais importantes títulos do futebol português, o que revela que a crise desportiva está definitivamente posta para trás. Um jogo duro, sem grandes momentos de futebol, tirando o golo solitário de Gaitan (por azar na baliza contrária ao lado de onde me encontrava), em que o meu temor de que a equipa do Benfica mostrasse debilidades físicas depois do brutal esforço da final de Turim se concretizou. Os jogadores estavam esgotados, mas resistiram como puderam e foram compensados (com alguma felicidade à mistura, diga-se). Assim acabou uma época extraordinária, nada previsível naquele início de desaires e tensões, que inesperadamente se tornou numa colecção de glórias. Para manter, espero.
Mais uma vez, dou a mão à palmatória, para mais do que uma palmada: dizia há um ano que Jesus tinha de se ir embora, que caso ficasse não pretendia ver mais jogos do Benfica com ele no banco, e que gostaria que ele ganhasse a Taça, mas noutro clube. Pois Jesus ficou, ganhou tudo a nível interno, incluindo a Taça, e eu estive lá para ver. Tudo o que previa saiu (felizmente) furado. O técnico conquistou finalmente o troféu que tanto procurou (por razões pessoais e familiares), e que lhe tinha escapado noutras ocasiões. E o Benfica mostrou como se pode cair com estrondo, erguer-se lentamente, atirar os desaires para as costas, tentar de novo e ganhar. Só faltou o troféu internacional que há de voltar sem sombra de dúvidas. O Benfica deu uma grande, grande lição de vida e de resistência.
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