terça-feira, maio 13, 2014

Mais um plebiscito na Ucrânia




Mais um plebiscito, desta vez ainda mais feito em cima do joelho e sob ameaça das armas que o da Crimeia. Donetsk e Lugansk "votaram" pela independência da respectiva "república popular", ou seja, por um enclave do leste da Ucrânia que pretende unir-se à Rússia no menor tempo possível.


Entre barricadas, armas pesadas e uniformes de toda a sorte, os votantes deram uma maioria esmagadora aos partidários dessas estranha independência. Que tenham chegado boletins preenchidos, ou que tenha havido pessoas a votar várias vezes, sem qualquer tipo de observadores internacionais, é coisa que não preocupou os seus organizadores, que tão pouco pensaram em fazê-lo depois das eleições marcadas para 25 de Maio. Ou talvez por isso mesmo. Dessa forma, e sob o pretexto do "governo ilegítimo" de Kiev, procedeu-se a um rearmamento da população russófona, com o apoio de milícias vindas directamente do grande vizinho, veteranos das guerras do Cáucaso, cossacos e até de Chetniks da Sérvia, proclamou-se a autonomia e tenta-se assim torpedear o calendário eleitoral, que só muito dificilmente terá lugar no dia aprazado. Que fazer? Se as eleições forem para a frente, é de esperar o caos. Se não forem, dar-se-à um pretexto a que se considere que o actual governo interino de Kiev é ilegítimo. De qualquer das formas, os separatistas já vieram com a tese absurda de que "as eleições são ilegítimas porque foram marcadas por um governo ilegítimo". Seguindo esse paradoxo, que impediria que qualquer governo futuro ganhasse legitimidade, também poderíamos considerar que as eleições para a Assembleia Constituinte de 1975 (e todas as que se lhe seguiram) também carecem dela. A verdade é que os separatistas não querem eleição nenhuma, excepto as que elas próprios organizam à sua maneira, de forma a serem anexados pela Rússia. Os dirigentes russo, nos últimos dias, tinham optado por uma posição de maior moderação, afastando tropas das fonteiras com a Ucrânia e aconselhando a que o "referendo" não se realizasse no domingo, mas entretanto já vieram aproveitar os "resultados". Normal. fizeram o mesmo na Crimeia. Mas desta vez, com as tropas ucranianas na fronteira e a cercar os separatistas, as colunas pró-russas terão outra dificuldade em anexar aquele território. Não se ocupa a bacia do Don como se ocupa a Crimeia ou a Ossétia do Sul.

Mas a situação é muitíssimo tensa. Para além das milícias atrás referidas, que já declararam que as forças ucranianas têm de sair, o que leva a crer que os combates vão recrudescer, tivemos os terríveis acontecimentos em Odessa, há dias, em que no seguimento de uma refrega campal deu-se o incêndio na sede dos sindicatos da cidade, devido a coktails atirados por manifestantes pró-união depois de um ataque de pró-russos (onde se incluíam, ao que tudo parece, elementos da Transnístria).
É pouco provável que por aqui os separatistas consigam realizar plebiscitos semelhantes aos da Crimeia e do Donbass, até porque os reforços do Transnístria não serão suficientes e a população não é maioritariamente russófona. Mas é de esperar novos tumultos, ali, não muito longe das fronteiras da Roménia, e portanto da NATO. E sobretudo, o espectro da antiga Jugoslávia, que teima em assombrar aquela região, cindida entre ucranianos e russófonos saudosistas. Deus não permita uma tal catástrofe.


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