O jogo de ontem com o Marselha valeu por uma escassa vitória com sabor agridoce. Mas valeu muito mais por causa disto. Homenagear a tempo os que nos honraram é uma regra moral básica. Tivemos de novo o treinador que há 34 anos comandou o Benfica na mítica vitória "manual" contra o mesmo Marselha nas meias finais da TCE, com 120 mil nas bancadas.
sexta-feira, abril 12, 2024
A homenagem a Sven Goran Eriksson
terça-feira, abril 09, 2024
Identidade, família e liberdade (?)
O novo livro "Identidade e Família" tem atraído as atenções por servir de pretexto a Passos Coelho para um novo discurso político mas também porque colheu vitupérios bizarros, havendo logo quem o associasse à extrema-direita e ao conservadorismo político (que não são só são diferentes como muitas vezes se excluem, coisa que os ignorantes políticos desconhecem). Pelo que apurei, o conteúdo é muito diverso, tal como os seus autores - tenho sérias dúvidas de que Bagão Félix, Manuela Eanes, Frei Fernando Ventura, Vasco Magalhães ou Guilherme de Oliveira Martins sejam sequer próximos da extrema-direita - e há matérias que se aproveitam e outras que se dispensam.
Mas as reacções é que são de espantar. Uma delas, vinda de uma das zelotas de serviço, é de se tratar de "inimigos da liberdade". Uma jornalista chegou a insinuar que uma vez consagrados na lei o aborto e a eutanásia, opinar contra seria "ilegítimo". Ora se há uma manifestação de liberdade que se veja é precisamente a de expressão, livre opinião e debate de ideias. Ataque à liberdade é o que praticam algumas das críticas, que se pudessem proibiam o livro. E ainda dizem defenderem os "ideais de Abril". Nota-se. Até por isso a sua edição é bem vinda.
quarta-feira, março 27, 2024
O primeiro dia
As cenas ontem no Parlamento lembraram muito aqueles primeiros dias na escola.
sábado, março 23, 2024
Acontece na Rússia
Os atentados na Rússia tinham na cara o modus operandi dos jiadistas, foram reivindicados pelos jiadistas, mas o habitual bobo de serviço, Medvedev, veio logo dizer que tinham sido os ucranianos.
quinta-feira, março 21, 2024
O Chega não é o PRD. Mas também pode ser.
Nas reacções aos elevados números alcançados pelo Chega nas legislativas veio logo à memória o PRD - que, em 1985, acabado de nascer, teve logo 18% e 45 deputados - seguido de numerosas negações das semelhanças, começando, como seria de esperar, por elementos do próprio Chega ou terceiras figuras do PSD que desejam a coligação com este último, mas também da parte de colunistas, como um recente artigo de João Miguel Tavares.
E, de facto, há inúmeras diferenças: o tempo é outro, a ordem internacional é completamente diversa, o PRD era uma organização muito personalizada no General Eanes (que aquando desse estrondoso resultado nem podia estar no partido por ser o Presidente da República em exercício), ideologicamente pouco consistente (andaria ali pelo centro-esquerda e muitos elementos vinham do PS) e surgiu em pleno governo do Bloco Central, que tinha de gerir mais uma intervenção do FMI e uma austeridade talvez pior que a dos anos 2011-2014. Além disso, o PSD entrou em ruptura com o dito governo, de que fazia parte, com um novo e disruptivo líder, Cavaco Silva.
Mesmo nos resultados há diferenças, já que o Chega teve números ligeiramente melhores. Além disso, o crescimento do Chega insere-se numa onda de partidos nacionais-populistas de direita, ainda que com objectivos e dinâmicas diferentes, coisa que os renovadores não tinham nos anos 80. André Ventura, antigo comentador de futebol, não tem a aura de Eanes, do militar que enfrentou e venceu o PREC, mas tem uma vantagem: a de querer conquistar mais votos e não se fazer de rogado. O General, quando finalmente liderou o PRD, como que se intimidava no apelo ao voto. Talvez por ser demasiado honesto para o fazer. O PRD podia talvez ser considerado radical, mas de centro, como mais tarde o seria o italiano Movimento Cinco Estrelas, hoje também em refluxo.
Sim, vivemos num tempo e em circunstâncias diferentes e o Chega é programática e ideologicamente muito diferente do PRD. Mas também tem semelhanças óbvias. Começa logo na excessiva personalização do partido na figura do "líder", apesar das diferenças entre Eanes e Ventura atrás mencionadas. Depois, o voto de ambos é extremamente heterogéneo: no Chega cabem saudosistas do Estado Novo, adeptos de um sistema presidencialista à americana, exilados oportunistas do PSD e do CDS, elementos de "boas famílias" ligados a correntes mais conservadoras do catolicismo e aficionados aos touros, e muitos, muitos descontentes e muitas pessoas frustradas, sobretudo nas áreas suburbanas e no sul do país, que não olhando para Ventura como um salvador, votam mais por raiva, dizendo, nalguns casos mais lúcidos, que votam não para dar o poder ao Chega mas para pressionar os partidos do "centrão" à prática de melhores políticas.
No PRD votavam trânsfugas do PS ou ex-reformadores da AD, antigos esquerdistas, adeptos de um regime mais presidencialista e muitos descontentes com a terrível fase de austeridade e desesperança que se vivia. Ou seja, tirando as referências ideológicas, que aqui são as que menos contam, o tipo de eleitorado é muito parecido. Mesmo geograficamente não andam longe um do outro: se o Chega conseguiu lugares em Trás-os-Montes e na Beira Interior, ganhando no Algarve, o PRD, sendo mais fraco no interior Norte, tinha grande predominância no Ribetejo (como o Chega) e na Beira Baixa, de onde provinha o General Eanes, e ambos ganharam muitos votos nos subúrbios de Lisboa, do Porto e na Margem Sul do Tejo.
Ou seja, o grosso dos votos vem por descontentamento das políticas seguidas e dos políticos que exercem o poder e menos por razões doutrinais. Vejam-se outras semelhanças, embora talvez mais por coincidência: o PS, antes no poder, é o que mais perde, vendo fugir boa parte do eleitorado; o PSD, agora em versão AD redux, ganha novamente com menos de 30% e terá de governar na corda bamba da minoria. E dizer-se que os eleitores já não prezam a estabilidade é uma falácia: há pouco mais de dois anos, quando o BE e o PCP chumbaram o orçamento do PS, deram-lhe uma inesperada maioria absoluta, perdendo inúmeros votos e lugares.
O apreço pela estabilidade e a "paga" em menos votos por quem derruba governos por perrice continua a ser norma. André Ventura sabe isso e por essa razão vem dizendo que tudo fará para conservar um governo estável e de quatro anos. Pedro Nuno Santos, embora na oposição directa, também dá mostras de não querer ficar com a culpa de um derrube precoce. Ainda assim, se o futuro governo se mostrar minimamente competente e Montenegro gerir a situação com habilidade, qualquer passo em falso vindo da oposição poderá ser fatal.
É por isso que não acredito que numas próximas eleições o Chega caia para os 4,9% e os escassos sete deputados que calharam ao PRD em 87, com Eanes na liderança directa, nem parece que Montenegro tenha o êxito de Cavaco (que colheu os frutos da austeridade e da entrada na CEE). Ainda assim, e com 50 deputados, alguns deles de duvidoso préstimo e comportamento, o Chega não só pode não subir mais como pode mesmo levar uma queda apreciável. Demasiado tacticismo e sede ao pote do poder conduzem a erros. Por isso, o Chega não é o PRD, mas também o é em parte.
Já agora, tecendo comparações com os partidos de meados de 80 e aproveitando a nova biografia de Francisco Lucas Pires, de Nuno Gonçalo Poças, recordo que o então líder do CDS foi o pioneiro do liberalismo político do pós-25 de Abril, e, depois dos mini-estados gerais da direita liberal que foram as sessões do Grupo de Ofir, viu o seu projecto diminuído e secundarizado pela entrada de rompante do PRD e, mais importante, de Cavaco Silva. Isto devia fazer pensar a Iniciativa Liberal, um pouco herdeira desse pensamento (embora Lucas Pires fosse mais liberal-conservador), que também estagnou nesta eleição e se encontra também ela num caminho incerto.
Sim, não estamos em 1985, mas 1985 não é assim tão completamente diferente.
Adenda: de qualquer forma, no lançamento do livro, estará um dos herdeiros políticos mais directos de Lucas Pires, Paulo Rangel, seu antigo assistente universitário em Ciência Política, e que me lembrou agora que no dia em que fiz o exame a essa cadeira, Pires, o seu regente, se filiou no PSD.
quarta-feira, março 20, 2024
Foto da semana
Uma fotografia que tem tudo a ver com esta semana em que se comemora o Dia do Pai, em que as atenções estão viradas para Belém e em que o país se despediu do poeta Nuno Júdice, que morreu no Domingo: o meu Pai, de costas, cumprimentando o Presidente, vendo-se Nuno Júdice imediatamente à direita, na imagem. Mateus, Setembro de 2019, atribuição do Prémio D. Dinis.
quinta-feira, março 14, 2024
APV
Já se passaram alguns dias, mas até pela altura que era, de Óscares e jogos do Benfica (de fraca memória), é de assinalar a morte de António-Pedro Vasconcelos. Podia-se discordar em muitas opiniões e nem apreciar todos os filmes dele, mas era provavelmente o homem que mais sabia de cinema em Portugal, um grande benfiquista e um literato, que não tinha receio em exprimir as suas opiniões (poucos se lembraram que ele foi dos primeiros a opôr-se ao acordo Ortográfico, para além do mais mediático apelo a que a TAP continuasse pública) nem em defender o cinema para o público ou os clássicos portugueses dos anos 40.
terça-feira, março 05, 2024
Não se brinca com o feminismo
Impressionante. Para comemorar o seu aniversário, o Público convidou, como sempre, uma personalidade de fora para ser director por um dia. E de quem é que se lembrou, para também homenagear as mulheres? Maria Teresa Horta, que é simplesmente a primeira pessoa (e única, que me lembre) que se lembrou de exigir um pedido de desculpas ao suplemente satírico desse jornal à época, o Inimigo Público (hoje está no Expresso), por uma piada satírica que tinha "posto em causa a sua dignidade" e por "liberdade não ser licenciosidade". Pois, e feminismo também não é necessariamente liberdade, pelo exemplo dado por Horta e por algumas discípulas. Aparentemente fizeram as pazes, o que é bonito
sexta-feira, março 01, 2024
Napoleão ou Crimeia?
Em resposta aos avisos de Macron sobre a possibilidade de tropas da NATO poderem combater na Ucrânia, os "aliados" (ou seja, subalternos) de Putin já vieram comparar o presidente francês a Napoleão e recordar a desastrosa campanha da Rússia, de 1812.
Tem-nos surgido muitas vezes, da parte de russos ou de outros sectores putinófilos, a sempiterna chamada de atenção para os efeitos nefastos da invasão de 1812 e da Operação Barbarrosa pela Alemanha, em 1941. Mas a sua noção de história parece ser selectiva, que não vindo de quem vem não espanta. Primeiro porque Macron não propôs nenhuma invasão da Rússia. E depois porque se esquecem de outra campanha, essa desastrosa mas para a Rússia, que foi a Guerra da Crimeia, nos anos 1850, em que a França, o Reino Unido e o Império Otomano - hoje todos membros da NATO - impuseram aos russos uma pesada derrota, a devolução de alguns territórios e o seu enfraquecimento na zona do Mar Negro. Macron saberá certamente porque é que há o Boulevard de Sebastopol ou a zona de Malakoff, em Paris. Bem sei que os tempos são outros, mas isso vale para todos, e se é para fazer comparações históricas, vamos a todas.
terça-feira, fevereiro 27, 2024
Artur Jorge
Recordando Artur Jorge, falou-se sobretudo da sua carreira como jogador e treinador e dos títulos que ganhou, nomeadamente do facto de ter sido o primeiro treinador português a sagrar-se campeão europeu, pelo FCP, e o primeiro a ser campeão noutro campeonato europeu, pelo PSG - e infelizmente, também aquele que iniciou a maior crise desportiva de sempre do Benfica, quando chegou com aura de vencedor, entrando também a sua própria carreira de técnico em declínio. Falou-se menos de outras facetas, como a sua formação em filologia germânica, de ter lançado um livro de poesia nos anos oitenta e a sua colecção de arte e de discos de jazz e ópera.