Ontem, dia 7 de Maio de 2010, abriu-se finalmente o já quase mítico túnel do Marão, com inauguração pública a meio da tarde e a abertura ao público à meia-noite. Anos de obras, paragens, revisões do projecto, derrapagens e esperas acabaram finalmente e há já uma auto-estrada pelo Marão fora.
Será exagero dizer que é uma obra revolucionária, ou mais ainda, que o interior deixou defnitivamente de estar isolado. Outras regiões interiores que ganharam bons acessos não deram qualquer salto e continuaram a perder população. Trata-se de uma obra complexíssima e muito útil, é verdade, mas a verdadeira travessia do Marão aconteceu há vinte e tal anos, aquando da construção do IP-4. Nessa altura houve uma enorme emoção por parte de quem conhecia o caminho que atravessava a serra, sobretudo dos transmontanos (a euforia era tanta que os restaurantes de Amarante, no dia da abertura, ficaram sem comida). Até essa altura, a ligação com Trás-os-Montes fazia-se por uma estrada nacional de montanha, com centenas de curvas - não exagero, cerca de quatrocentas - sempre com o temor de se atropelar um lobo. Do Porto a Vila Real eram duas horas e meia, se as coisas corressem bem, e ficava-se com o estômago às voltas. No Verão, com todas as festas das terras que se atravessava até ao destino, perdia-se um tempo incontável. Depois, o IP4 mudou a parte pior do trajecto, e o tempo de viagem encurtou visivelmente. A A4, primeiro até Penafiel e depois até Amarante, encurtou-o ainda mais. Mas o IP tinha notórios erros de engenharia, curvas mal feitas e mudanças abruptas de 3 faixas, que a tornaram numa estrada extremamente perigosa. Em vinte anos perderam ali a vida mais de 130 pessoas. Ainda hoje se podem ver, ao longo do caminho, diversas alminhas e cruzeiros recentes a recordar quem ali perdeu a vida. Entretanto fizeram-se melhoramentos, como barras e separadores nas faixas centrais, e a segurança melhorou visivelmente. A A4 chegou às portas do Marão, retomando o caminho em Vila Real, em ligação com a A24, chegando a Bragança em 2013. Só faltava mesmo o troço mais difícil. Custou, mas acabou-se. Entre Porto e Vila Real, se descontarmos a mais periférica A7, já se pode circular exclusivamente por autoestrada. Não é o início de uma mudança radical de acessos, mas a sua conclusão. Que só trará benefícios para a região se se desenvolver um pouco mais a incipiente indústria e a agricultura (dando incremento a projectos no papel ou suspensos, como o Cachão), bem como o potencial da UTAD e politécnicos, e não encerrarem mais e mais serviços públicos que provocam a erosão populacional. Só assim é que esta ligação dará os seus frutos aos que vivem "para lá do Marão". E Trás-os-Montes continuará a ser do interior, não precisando desse complexo provinciano de "ser do litoral", num país que pouco aposta no mar.
Resta apenas dizer que os convites feitos a Sócrates e a Passos Coelho para a inauguração do túnel foram justíssimos. Afinal de contas foram eles os principais responsáveis pelo lançamento e construção desta obra. Para mais, dois homens com origens em Trás-os-Montes. Pena o habitual protagonismo inoportuno do primeiro e a ausência mal justificada do segundo (quando a verdadeira razão até era compreensível). E pena também que boa parte da comunicação social desse mais importância às questiúnculas políticas relacionadas com os dois que à obra em si.
PS: quase de propósito, no mesmo fim de semana da inauguração, também o Desportivo de Chaves regressou à primeira divisão, coisa que ainda não tinha acontecido este século. Todas as desculpas de maus acessos até Chaves desapareceram definitivamente, embora já houvesse autoestrada até lá. E se se tivesse atrasado mais umas semanas, também o novo órgão da Sé de Vila Real, também há muito esperado e que chegou em Abril, teria sido inaugurado por estes dias.
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